Valas define os parâmetros de ‘rap’ para a Latada

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O alentejano uniu as suas origens às influências transatlânticas. Concerto inaugurou a cena de ‘hip-hop’ na Festa das Latas. Texto por Vittorio Alves. Fotografias por André Crujo

Muita gente pode surpreender-se com a efervescência da cena do ‘hip-hop’ em Évora. A paisagem alentejana, à primeira vista, não parece despertar os ânimos de tal maneira a evocar a expressividade pelo género musical norte americano. Basta adotar outra perspectiva e logo se vê compatibilidade entre tudo isto. Prova inquestionável é a sociedade que foi criada à volta do rapper Johnny Valas. Na falta de um ‘rap’ ativo, o compositor reuniu a sua “rapaziada” para produzir aquilo que os provocava. E Évora esteve consigo em cada parte do processo. “Faz parte da minha identidade. Não é só musical”, colocou o artista.

A segunda vez em que o ‘rapper’ se apresentou em Coimbra não teve casa cheia, mas também nenhum outro concerto da noite o teve. Apesar disso, era notável a imersão no concerto, quer por parte de gente que já o conhecia, quer por espectadores que nunca dele tinham ouvido falar. Quando a câmera de vídeo singrava sobre a plateia, não era identificável uma só alma indiferente. A primeira fileira inteira cantava em descontraído uníssono junto com a figura no palco. O misticismo da batida do novo e melódico ‘rap’ norte-americano mostrou-se sem pressa, como deve ser.

A apreensão de Valas foi abaixo. Notava-se como o ‘rapper’ simplesmente apreciava com leveza a habilidade de ir e vir sob os holofotes. O artista tinha revelado, momentos antes do princípio do espetáculo, a sua reticência quanto ao tardio horário de início do concerto. Esperava que o público “curtisse e que a mensagem das canções fosse passada”. Assim o foi. Mariana Braga, estudante de Serviço Social pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (FPCEUC), achou a experiência “incrível”. Ela e sua amiga Joana Neves, estudante do mesmo curso, concordaram que, no contexto de um “cartaz super fraco”, Valas foi uma das boas surpresas.

As letras de Johnny atingiram em cheio Gonçalo Vidal, estudante de Engenharia Informática das Faculdades de Ciências e Tecnologia da UC. O espetáculo já tinha acabado e Gonçalo encontrava-se onde Valas o havia deixado. Qualquer coisa de si e de Carolina Marujo, estudante de Psicologia na FPCEUC, ficou ali. “O Valas é outra ‘vibe’”, arrematou Carolina.

O ‘rapper’ explica que, como Leonard Cohen, se soubesse de onde vêm as canções, passaria lá mais tempo. “A inspiração é por aí, surge em situações inesperadas”, considerou Johnny. O artista para o que estiver a fazer para escrever um pensamento. “A partir do momento em que entra uma linha de raciocínio, segue-se a parte natural da coisa”, concluiu Valas.

As altas horas da noite, contudo, mostraram que nem tudo são rosas debaixo da vigília da velha Torre da Universidade. A mesma Mariana Braga, que pouco antes havia descrito o cancioneiro de Valas como “top” e “incrível”, mostrou-se abalada com a curta durabilidade dos espetáculos. Martim Vasconcelos, estudante de Contabilidade do Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra, por sua vez, viu um começo de inquestionável qualidade lírica, somente para desembocar na foz de um rio de “letras fúteis”.

Valas, pelo que aparentou, segue inabalável ao lado de seus companheiros de palco. Saiu do palco sem despedidas demoradas. A arte mantém-se das projeções futuras e Valas já pensa na menina dos seus olhos das parcerias, uma colaboração com o camarada de recinto, Manel Cruz. “Seria um sonho. Fora essa conversa de café não tenho nada planeado”.

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